Se a crise afetou a rentabilidade de muitas empresas e levou a um aumento do desemprego no Brasil, a confiança dos líderes de TI no País parece ter sido pouco afetada pelas turbulências internacionais. A constatação faz parte da primeira edição brasileira do estudo The State of the CIO 2009, promovido pela revista CIO, a partir de uma pesquisa com 260 líderes da área de tecnologia da informação de empresas de médio e grande portes. No levantamento, 77% dos entrevistados dizem que estão mais seguros no cargo do que estavam há um ano, quando os problemas na economia mundial tiveram início.
Alguns fatores justificam essa confiança dos executivos. O primeiro deles é a própria importância que a área de TI ganhou nos últimos meses, por conta das possibilidades de, a partir da tecnologia, reduzir custos operacionais e melhorar a produtividade das organizações. Por outro lado, os CIOs que por muito tempo ficaram reclusos ao universo técnico assumem hoje funções cada vez mais estratégicas nas organizações. Prova disso está no fato de que 49% dos profissionais que responderam ao estudo acumulam a responsabilidade pelo departamento de TI com a liderança de outras áreas da organização.
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Especializado no recrutamento de executivos de TI, Jairo Okret, que atua como sócio da consultoria Korn/Ferry no Brasil, aponta que a crise serviu para aumentar a demanda por algumas competências que já eram esperadas dos CIOs. “Por exemplo, a habilidade de negociação e a capacidade de, a partir das necessidades do negócio, usar a tecnologia de forma criativa”, explica Okret. Em contrapartida, o especialista acredita que esses profissionais enfrentam um ambiente cada vez mais competitivo nas organizações e precisam estar mais capacitados a transitar por todas as áreas.
Em linha com a visão do consultor, o The State of the CIO 2009 aponta que quase 81% dos executivos consultados no estudo possuem algum curso de extensão universitária. Dentro desse grupo, 80% fizeram MBA ou pós-graduação, 18% mestrado e 2% doutorado. “Isso mostra que o líder de TI está se preparando melhor para falar com as áreas de negócio”, cita Okret, ao considerar que o CIO tem sido cada vez mais cobrado por resultados corporativos e isso pode ser uma oportunidade para sair, definitivamente, do ambiente exclusivo de tecnologia.
A líder de TI da Alcoa, Tânia Nossa, representa um dos muitos exemplos de CIOs que, graças à capacitação diferenciada, conseguiram um lugar de destaque na organização. A executiva brasileira, que atua na fabricante de alumínios há 19 anos, acumula a diretoria da área de tecnologia da informação com a função de gerente-geral da divisão de Global Services Business para América Latina e Caribe. Formada em processamento de dados e em administração de empresas, Tânia conta que a soma do MBA em marketing com a experiência internacional – ela atuou durante um ano nos EUA como gerente global do portal da companhia – foram fundamentais para que a empresa a enxergasse como uma pessoa indicada para assumir a liderança da área de serviços. Ela assumiu essa posição no final do ano passado em paralelo com as funções de TI, que exercia há três anos.
Na posição de gerente-geral da divisão de Global Services Business, a executiva controla uma equipe de 453 profissionais responsáveis por prestar serviços de recursos humanos, compras e finanças para todas as subsidiárias da região. Além disso, seu departamento fornece soluções de tesouraria para todas as operações da Alcoa ao redor do mundo. “Por incrível que pareça, o fato de ter atuado por muito tempo com TI me ajudou, já que conhecia os diversos processos de negócio da companhia”, explica a executiva. “Assim, por mais que eu nunca tenha trabalhado com as novas áreas que passei a coordenar, nada foi novidade para mim”, complementa Tânia.
Quanto às atribuições de CIO para América Latina, ela explica que só consegue dar conta de todas as atividades com o apoio de sua equipe. Para tanto, o dia-a-dia da TI virou responsabilidade da gerente de sistemas, Renata Maniero. “Graças ao trabalho dela, consigo me dedicar apenas às questões estratégicas”, detalha a executiva. Para a vice-presidente de pesquisas da consultoria Gartner, Ione Coco, contar com um segundo nível hierárquico altamente capacitado para gerenciar parte das funções que, até então, eram demandadas das lideranças de tecnologia, representa um caminho natural, principalmente, nas grandes corporações.
Na opinião da vice-presidente do Gartner, os CIOs vivem hoje um dilema: “eles precisam estar mais próximos da estratégia de negócios, mas, por outro lado, têm de lidar com soluções e serviços cada vez mais complexos”. Segundo ela, isso exige uma nova estrutura dos departamentos de TI. Outra barreira que a área também enfrenta diz respeito ao relacionamento com as demais áreas da organização. O The State of the CIO 2009, mostra que 72% dos entrevistados sofrem com o fato de seus departamentos serem enxergados como um centro de custos que precisa ser gerenciado. E, apesar disso, 91% dos executivos afirmam que sua área é considerada uma parceira de negócios pelo resto da companhia.
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